Groove do pão
Com a mesma habilidade com que pega o baixo ou o violão para tirar sons que encantam a plateia, Gino Sant’Anna mistura os ingredientes que se transformam em pães deliciosos, saboreados com o mesmo prazer de quem ouve o que ele toca.
Músico profissional e padeiro eventual, Gino aprendeu receitas de pão caseiro quando morou com a mulher em Londrina. “Lá eles têm uma cultura muito forte de fazer pão em casa”, explica. De volta ao Rio e a Honório Gurgel, trouxe na bagagem o novo hábito e as receitas que faz, muitas vezes com a ajuda das duas filhas, que aprovam as criações musicais e culinárias do pai.
A temporada em Londrina não acrescentou apenas o gosto pelo pão caseiro: Gino, batizado com o mesmo nome do pai, Higino, voltou de lá com uma ideia na cabeça. “Quando a gente voltou, senti uma coisa assim: ‘sabe o que você tem que fazer? Parar de ficar estudando em casa e ir estudar na rua’”. Seguiu a intuição. “Fui falar com o Marcelo, chaveiro, que é flautista, pra ir tocar com ele lá. Levei baixo, guitarra, e a gente ficou ali na Praça tocando. Aí chamamos outros amigos e começamos a fazer um som ali, de brincadeira”, conta ele, sobre a composição dos ingredientes musicais que levaram à formação da Cia dos Músicos. “Percebi que meu bairro tinha muitos músicos”, lembra Higino.
Até hoje esse grupo de músicos vizinhos se encontra na praça do conjunto do antigo IAPI, onde fica o ponto final do ônibus 362 (Praça 15-Honório Gurgel), batizada de Othon de Almeida, em homenagem ao dono do bar mais antigo do lugar, ainda em funcionamento. “Quando a gente está na Praça, tem o hábito de fazer uma vaquinha e ficar compartilhando o nosso alimento”, conta Higino que, por isso, escolheu compartilhar aqui a receita do pão, feito com ingredientes simples, “que todo mundo tem sempre em casa”. “É o pão da vida, do relacionamento, da amizade, da troca de ideia”, diz. Alguém discorda?